sábado, 28 de dezembro de 2013

No princípio

No princípio criou Deus o céu e a terra.

Essa passagem, a primeira em nossa Bíblia, é cheia de significado. Todavia, dificilmente se extrairá seu rico ensinamento sem que se desfrute do dom do Espírito Santo e se recorra a outras passagens nas obras-padrão e revelações.
Há quatro relatos da Criação: um em Gênesis (o qual estudaremos), um no Livro de Moisés e um no livro de Abraão – ambos na Pérola de Grande Valor – e um último, que esta disponível apenas aos que entram na Casa de Deus. Este último não será mencionado em nosso estudo, por ter um caráter que de tão sagrado não é publico.
Todos os relatos da Criação são semelhantes, porém não são idênticos. Todos acrescentam informações que se entrelaçam para formar um entendimento maior. A comparação detalhada desses relatos não será feita nesta ocasião, mas mais tarde.
Deve-se dizer ainda que outras passagens das obras-padrão também ensinam muito sobre a Criação (por exemplo: Hebreus 1:2, 1 Néfi 17:36. Segundo o Elder Bruce R McConkie, que serviu no Quórum dos Doze Apóstolos, a Criação é um dos três pilares da Eternidade – sendo os outros: a Queda de Adão e Eva e a Expiação de Jesus Cristo. Isso nos faz refletir quão importante é a Criação no Plano de Deus – e quão vital é para os homens mortais conhecerem essas coisas.
De fato, a compreensão correta da Criação revela um Deus bondoso que tem um vínculo de amor por nós, seus filhos. Também demonstra com clareza atributos do Todo-Poderoso e ensina princípios de retidão para aplicação em nossa própria condição finita. Além de nos encher de alegria.
“No princípio” deduz um marco inicial. Uma etapa preliminar para um acontecimento. Quando Moisés escreveu “no princípio” estava ciente de que Deus “não tem princípios de dias ou fim de anos”. Na realidade, “o tempo só é medido pelos homens” – porque Deus é “de eternidade em eternidade”. Ele sempre existiu, e sempre existirá.
Essa noção de eternidade é de difícil assimilação para nós mortais. Somos limitados por tempo e espaço. Isso devido a nossa condição atual no estado de provação. Todavia, embora vejamos em parte – a verdade é que Deus é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
Devemos lembrar que Moisés estava escrevendo para pessoas que não tinham tido o privilégio de ver os mistérios da eternidade. Ele foi ensinado por visão, sendo transfigurado. O pouco que lhe foi permitido transmitir precisou ser adaptado a uma linguagem imperfeita.
Assim vemos que em algum momento na eternidade, o qual foi chamado de princípio[1], Deus decidiu criar a Terra e tudo o que nela há.
A palavra "criar" também pode levar alguns equívocos. Joseph Smith, o profeta da restauração, deu uma excelente explicação:
"Se perguntardes aos cultos doutores que afirmam que o mundo foi feito do nada, responderão : 'Acaso não diz a Bíblia que ele criou o mundo? ' Eles inferem do verbo criar que deve necessariamente ter sido feito do nada. Bem , a palavra “criar” provém do termo “baurau”, que não significa criar do nada; quer dizer organizar; a mesma coisa como se o homem organizasse materiais e construísse um navio . Dali, deduzimos que Deus dispunha de materiais para organizar o mundo dentre o caos - matéria caótica, que é elemento , e no qual habita toda a glória . O elemento existe, desde que ele próprio (Deus) existe. Os puros princípios de elemento são indestrutíveis ; podem ser organizados , reorganizados, mas nunca destruídos . Não tiveram inicio e não poderão ter fim . " (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, pg. 341 -42).
Assim entendemos que "criar" significa "moldar", "formar", "organizar" - sempre referindo-se a uma atividade divina.
A palavra Deus também merece nossa atenção. Ela aparece 5879 nas escrituras. Cerca de 80% desse número se refere ao Deus verdadeiro. Podemos definir Deus, rudimentarmente, apenas afirmando que aquele que é passível de adoração é deus. Mas neste sentido incluiríamos uma infinidade de seres e objetos. O astro da música, a moça bonita e uma pedra brilhante todos são passiveis de adoração. A devoção e a admiração dos homens podem avançar para idolatria muito facilmente, como foi demonstrado pela História mortal. Para solucionar tal problema uma definição melhor do que vem a ser Deus se faz necessária.
Deus é (1) um ofício, (2) uma posição de liderança especial, e também é (3) uma condição.
A Trindade é formada por três deuses: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É próprio chamar a cada um desses distintos personagens de Deus – Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito . Às vezes as escrituras se referem ao Pai como Nosso Deus (Gálatas 4:3-7) e às vezes ao Senhor Jesus Cristo como Deus (Judas 1:25, 2 Néfi 9:3-4). Por serem unos em todas as coisas (exceto no corpo) o Filho comumente fala em lugar do Pai (João 14:7-11). Todavia, os três tem funções divinas diferentes. Portanto, Deus é um oficio do sacerdócio para aqueles que pertencem ao Quórum da Trindade.
O profeta Joseph Smith ensinou: “Sempre declarei que Deus é uma pessoa distinta, Jesus Cristo é uma pessoa separada e distinta de Deus, o Pai e que o Espírito Santo é uma pessoa distinta e é Espírito: E esses três constituem três pessoas distintas e três Deuses” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith – “Deus, o Pai Eterno”, pg. 45).
Deus é uma posição de liderança especial. Digo especial porque apenas alguns líderes alcançam tal status de devoção. O diabo, por exemplo, é chamado de deus. Quando nos referimos ao diabo e a outros deuses que não sejam os membros da Trindade escrevemos a palavra deus com a primeira letra em minúsculo.
É valido lembrar que Satanás se impôs como deus deste mundo (Lucas 4:5-7). E durante a história humana na mortalidade, Ele, o falso deus, sussurrou mentiras aos homens fazendo com que a idolatria fosse instituída. Falsos deuses foram criados – representando as forças da natureza e as virtudes e características humanas. Muitas vezes esses deuses eram representados com obras de arte. O Senhor não se agrada da idolatria. O segundo grande mandamento se refere a isso quando diz: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êxodo 20:4-6).
Os falsos deuses serão destruídos (2 Néfi 12:18-20) e o diabo irá para as trevas exteriores onde há pranto e ranger de dentes (D&C 76:36-38).
Todo deus tem certas características e poderes, que às vezes são tidos como sobrenaturais ou milagrosos – por não serem entendidos pelo senso comum e a ciência humana. Esses poderes são empregados na liderança. Satanás, por exemplo, usa seus poderes para enganar os homens (2 Néfi 9:9, Êxodo 7:20-22)
Deus também é uma condição. Como somos filhos de Deus podemos nos tornar como Ele. Se obtivermos vida eterna seremos deuses (Salmos 82:6). Aqueles que têm Vida Eterna são chamados deuses (D&C 132:20). Aqueles que entram para exaltação poderão ser como o Pai: tendo todo poder e conhecimento – os atributos de Deus.
Deus é um título mais comum para o Pai e o Filho, assim como Senhor – diferentes de outros títulos e nomes como Eloim, Jeová e Santo de Israel – mais raros nas escrituras e mais sagrados. Todavia, qualquer que seja o título ou nome, deve haver cautela e reverência no uso. O mandamento de não tomar o nome do Senhor em vão (Êxodo 20:7) inclui cuidado não só na pronúncia de todos os títulos e nomes do Senhor, mas em zelo constante na adoração e para que não haja blasfêmia e hipocrisia nas atitudes dos que tomam sobre si o nome de Deus.

Jeová, que recebeu o nome de Jesus Cristo, é o Deus Criador (Mosias 4:2; Mórmon 9:11; D&C 14:9, 76:20-24; Moisés 2:1; Abraão 4:1) - conforme teremos a oportunidade de explicar nas próximas postagens.

O relato de Gênesis refere-se à criação de nosso céu e nossa Terra – e não de todo o universo. E isto fica muito claro no livro de Moisés, pois lemos: "Mas far-te-ei um relato apenas sobre esta Terra e seus habitantes." (Moisés 1:35)


PARA APROFUNDAR O ASSUNTO:



[1] No Manual do Aluno do Instituto de Religião, Curso Velho Testamento (Curso de Religião 301) páginas 24-25 encontramos a seguinte explicação para este primeiro versículo:
Pelo menos dois pontos importantes devem ser esclarecidos a respeito destas palavras iniciais da Bíblia: Primeiro , o termo "no princípio" é de natureza relativa e não significa o ponto de origem de toda a eternidade, se é que pode haver tal coisa . O Senhor disse a Moisés que falaria somente acerca desta terra (Moisés 1:40). As criações de Deus são inúmeras e incontáveis para o homem (Moisés 1:37; 7:30) , e muitos mundos já "deixaram de existir" (Moisés 1:35). Assim sendo, o termo "no principio" refere-se somente ao início deste mundo. O Presidente Brigham Young explicou: "Quando houve um começo? Jamais houve um; se houvesse, haveria um fim; porém jamais houve um começo; por conseguinte, nunca haverá um fim; assim é a eternidade. Quando falamos a respeito do inicio da eternidade, é uma conversa bastante simplória, e vai muito além da capacidade humana. (Discursos de Brigham Young, p . 47)
Segundo, a criação deste mundo não foi o verdadeiro principio da existência daqueles que viriam habitar este planeta. Antes que fossem estabelecidos os alicerces desta terra, eles viveram como filhos espirituais de pais celestes, num estado de existência pré-mortal. O Presidente Joseph F. Smith declarou: "De onde viemos? De Deus. Nossos espíritos existiam antes de virem a este mundo. Eles estiveram presentes nos conselhos dos céus antes de serem estabelecidos os alicerces desta terra... Elevamos cânticos jubilosos na ocasião em que foram estabelecidos os alicerces desta terra, na ocasião em que foi delineado o plano de nossa existência terrena e de nossa redenção... Não resta qualquer dúvida de que estávamos presentes naquele conselho celestial e presenciamos aqueles maravilhosos acontecimentos... e quando Satanás se ofereceu para ser o salvador deste mundo, se, em troca, recebesse a honra e glória do Pai, por ter-nos resgatado... Inquestionavelmente, assistimos ao desenrolar daquelas cenas e delas participamos, pois estávamos vitalmente interessados no estabelecimento destes grandes planos e desígnios, os compreendíamos, e foi para o nosso bem que eles foram decretados e serão consumados . " (Citado por Ludlow, em Latter-day Prophets Speak , pp . 5 -6.)
Assim sendo, toda a humanidade existiu, durante um período de tempo de duração desconhecida, muito antes deste mundo ser criado (D&C 49:16-17). O Presidente Kimball esclareceu: "A vida transcorreria em três partes ou estágios: pré-mortal, mortal e imortal. O terceiro estágio incluiria a exaltação - vida eterna com divindade - para aqueles que magnificassem sua existência mortal. Tudo o que fosse realizado em um estágio afetaria vitalmente o estágio ou estágios seguintes. Se a pessoa conservasse seu primeiro estado, ser-lhe-ia permitido viver o segundo, que é a vida
mortal, como um período posterior de provação e experiência. Se magnificasse o segundo estado, sua experiência terrena, a vida eterna estaria à sua espera.
Com essa finalidade, os homens passam por numerosas provações durante o estágio mortal - "para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes mandar" (Abraão 3:25).
"Nós, mortais, que agora vivemos nesta terra, estamos passando por nosso segundo estado. O fato de estarmos
aqui com corpos mortais, por si só, atesta que "guardamos" nosso primeiro estado. A matéria de nosso espírito era eterna e coexistente com Deus, mas foi organizada em corpos espirituais pelo Pai Celestial. Nossos corpos espirituais passaram por um longo período de crescimento, progresso e treinamento, e por termos passado no teste, fomos finalmente admitidos a esta terra e à mortalidade." (O Milagre do Perdão, p.16)
Este "longo período de progresso e desenvolvimento" certamente deve ter exercido grande influência no que o
homem é agora. Por exemplo , o Presidente Brigham Young salientou que todos os homens sabem que há um
Deus, embora alguns deles tenham esquecido que o conhecem. Ele declarou:
"Quero dizer a cada um de vós, particularmente, que conheceis muito bem vosso Deus, nosso Pai Celestial, ou o grande Eloim. Estais bem familiarizados com ele, pois não existe uma só alma entre todos vós , que não tenha vivido
em sua morada e habitado com ele durante muitos anos; todavia, estais procurando familiarizar-vos com ele, quando o fato é que meramente esquecestes o que sabíeis. "Não existe uma só pessoa aqui, que não seja um filho ou filha daquele Ser . " (Discursos de Brigham Young, p . 50.)

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